terça-feira

Estava de pernas esticadas a apanhar um raro raio de sol mesmo nas trombas. Percorri mentalmente a última semana e decidi que estava triste. As ervas daninhas que espreitavam aqui e ali sorriam sarcasticamente para mim e as pessoas queriam todas a minha morte. Estava algemado a uma cadeira de balouço e um puto ia-me dando pontapés nas canelas fazendo com que a cadeira balouçasse fazendo um barulho irritante. Claro que o barulho para mim não era irritante, era até irrelevante, bem como os pontapés daquele pequeno Satã. Eu tinha medo era do tio dele. O seu nome era Apolinário e a sua profissão era farmacêutico. Fervoroso adepto do Belenenses tinha uma paixão secreta por drogas extremamente degradáveis para as outras pessoas. Eu cometi o erro de o conhecer e dizer-lhe que o achava esquisito. Levou-me para um local afastado da civilização e da sanidade mental. Amordaçou-me e gritava constantemente que eu era um pedaço de bosta fumegante e que me ia dar uma droga do medo. Iria sentir medo para o resto da vida! Mas com medo já eu estava e com merda até aos tornozelos. Confesso que era desagradável. E o raio do puto!

- Sabes que eu sou farmacêutico?

- Tio, o senhor está amordaçado. Não consegue falar com mordaça e cheira mal.

- Vou dar-te a droga do medo. Vais andar com medo para o resto da vida mesmo quando não houver razão para tal. Vais desmoronar tudo à tua volta. Destruir o que é belo. Vais recear tudo e todos!

- Podemos voltar para casa? Tenho fome tio...

- Mas o medo já está dentro de ti Homem! Está só à espera de ser espevitado. E eu sou o fósforo que vai atear o teu medo! Vais ter medo! Vais causar a destruição! Não vais ousar questionar a autoridade ou então matas-te e aos outros porque não a toleras!

- Tio... vá lá! Ainda não fiz os tpc...

- E o Belém joga daqui a nada... vamos embora então. E tu escumalha vais ter medo!

- Deixamos aqui o senhor?

- E porque não? Amanhã o tio trata dele.

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