domingo

O Jantar

Estava a pensar numa outra coisa qualquer. Resguardado, tentava não olhar directamente para ela com medo de a achar demasiado tensa com a minha presença, talvez até incomodada. Mas enfim... tenso estava eu, bebendo uns copos para tentar relaxar o entorpecimento verbal em que estava metido. É sempre nestas alturas que as coisas inteligentes ficam esquecidas dentro de nós. Para além disso, sabia que Jack queria matar-me e possivelmente estava enrolado com Daisy. As coisas podiam de facto estar a correr melhor. Cheio de dívidas e dúvidas, podia estar ali na minha última ceia e a coisa que mais me preocupava era não ter nada de absolutamente brilhante para dizer a Daisy. Se saísse dali vivo tinha de rever as minhas prioridades. Daisy levantou-se graciosamente para ir fazer cocó e eu fiquei a sós com o pulha do Jack.

- Então caro Mike, ouvi dizer que as coisas não estão a ir muito bem.

- Sim, como te estou a dever muito dinheiro parece que me queres matar.

O porco inchado do Jack riu sonoramente e o suor que lhe escorria pela cara pareceu mais brilhante do que nunca provocando-me um ligeiro vómito.

- Tens cá uma piada, Mike! Achas que eu te quero fazer mal? Gosto muito de ti. E a tua mãe tratou-me sempre como se fosse da família e isso não se esquece! Mas por outro lado Mike, tens de admitir que não tens cumprido com as tuas obrigações. E por causa disso vejo-me forçado a pedir um favor, e olha que não vale a pena pedires factura, que este não vou pagar porque tu já me deves muito caro Mike.

- Tens razão Jack. Estou nas tuas mãos. Diz o que tenho de fazer.

- Gosto de te ver assim manso, Mike. Ainda bem, não te queria forçar a nada...

Daisy voltou com a maquilhagem retocada e uma onda de calor subiu-me à cara.

- Não é preciso ficares vermelho Mike, não te vou pedir nada de impossível. Preciso apenas que vás com a Daisy buscar uns pertences meus a casa do velho Phill. Nada mais.

- Com a Daisy?

- Sim, algum problema? Estás bem? Passas de vermelho a um pálido de morte em poucos segundos. Devias ir ao médico, podes ter alguma dessas doenças modernas. Mas sim, quero que vás a casa do velho Phill, buscar umas coisas que me pertencem. O Phill sabe o que é. Não tens de dizer nada nem de fazer perguntas. Pegas na mercadoria e sais mudo. Entendido Mike?

- Claro Jack.

- É muito importante, não faças merda desta vez.

- E porque é que a menina Daisy também vai?

- Tens algum problema com isso?

- Não, eu adoro a menina Daisy. (fiquei escarlate) Quero dizer... er... gosto muito da tua companhia Daisy. Não tenho problema nenhum. É um prazer.

- Ok, então não faças perguntas. Daisy, tens algum problema em ir com este mentecapto fazer o serviço a casa do Phill?

- Oh, o Mike é um querido.

A tarefa que Jack me deu de certeza que não era tão simples, eu devia-lhe muito mais. Mas isso ficou para segundo plano. Dentro em breve iria ficar a sós com Daisy.

5 comentários:

HT disse...

Após a leitura atenta deste texto de qualidade, digamos, fraquinha, não posso deixar de lamentar as incongruências graves cometidas por alguém a quem eu, precipitadamente, um dia chamei de génio. O que eu queria dizer era "Eugénio". Assim é que era.

1ª falha:

"...bebendo uns copos para tentar relaxar o entorpecimento verbal..."

Ora, o povo sabe que beber uns copos só causa maior entorpecimento verbal. Em muitos casos chega mesmo a gerar-se uma gaguez momentânea.

2ª falha:

"...Daisy levantou-se graciosamente para ir fazer cocó..."

Miguelito Miguelito... nunca ninguém com o cocó à porta se conseguiu levantar graciosamente...

3ª falha:

Há uma troca de coloração. Segundo o contexto onde se enquadra a situação em causa, Mike deveria ter ficado pálido de morte quando Jack lhe falou no favor... e vermelho quando este lhe referiu que teria que ir a casa do velho Phill com a Daisy. Nunca o contrário.

Com isto pergunto: Irás tu, jovem Eugénio, continuar a escrever?

Salamandra Pintarolas disse...

Jovem Mike, o lado bom da história é, no final, ficares a sós com a Daisy e não teres que fazer perguntas ao Phill. Com entorpercimento verbal ou não, assim só precisas de te concentrar nela...

... aposto que ela não disse que ía fazer cocó quando se levantou da mesa...

Miguel disse...

Senhor Tomé, no que respeita às falhas que me aponta tenho a dizer:

Falha 1)
Aquilo a que chama de povo nem sempre alvitra de maneira correcta e tende a fazer observações que pouco ou nada passam do superficial. De qualquer modo saberia dizer que beber uns copos põe uma pessoa a falar mais, embora de maneira um pouco entaramelada, obviamente. Era isso que eu queria dizer, o jovem Mike estava a tentar relaxar e deixar a timidez que a presença da bela Daisy provocava.

falha 2)
Tem razão. Mas é aí que está a piada. Se foi feliz a sua utilização isso aí já tenho as minhas dúvidas...

falha 3)
Mike ficou vermelho porque viu Daisy a sair dos lavabos e não por causa do favor. Depois ficou branco de pavor porque tinha sempre uma grande timidez ao pé de Daisy e ia ficar certamente apavorado por estar a sós com ela.

Espero que tenha ficado elucidado e que me considere novamente um génio.

Miguel disse...

Cara Salamandrina, estou a ver que a parte do cocó está a levantar uma grande celeuma entre os meus leitores mais assíduos.

Mas tem razão. Ela não disse que ia fazer cocó. E toda a parte do cocó está completamente descontextualizada. No entanto, como me provocava risos cada vez que a lia vi-me forçado a deixá-la. No entanto é de realçar que a utilização de non sense está presente em grande parte da minha escrita, servindo para relativizar eventuais partes mais sensíveis ou reveladoras. Creio que já tivemos uma conversa sobre esta faceta da minha personalidade, que serve como método de auto-defesa como na altura referi.

Relativamente ao jovem Mike ficar a sós com Daisy... as coisas não foram assim tão simples. Talvez um dia escreva o resto.

Um bem haja!

HT disse...

Um verdadeiro génio sabe conviver com a crítica. Soubeste, de forma graciosa (com ou sem o cócó à porta), responder a um comentário que pouco abonava em teu favor. Soubeste manter o auto-domínio e acima de tudo soubeste sair da situação com grande elegância. Teres-me mandado para o ca#%lho teria sido o caminho mais fácil. Mas a tua sabedoria é imensa para te deixares cair na brejeirice.

Tens em ti o mais elevado grau da potência intelectual que o espírito humano pode atingir.

Prova superada.

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