domingo

Ela estava deitada a pouca distância de mim, com o seu corpo a aconchegar-se sensualmente. Percorria atenciosamente um livro, pausando os seus pensamentos com suavidade nas folhas já meio gastas. As coisas importantes podem anunciar-se na formulação de um estranho desejo. Podem aparecer, deslizando numa fantasia que se desenrola impossível nos dias da normalidade que vão passando. Conhecia-a assim, como uma estranha, com um mundo desconhecido que se desenrolava paralelamente ao meu e que ocasionalmente podia espreitar e supor como seria. O mistério como me olhava e parecia repelir fazia-me gravitar cada vez mais na sua órbita. De maneira sussurrada ia entrando dentro de mim e segredando uma cada vez maior proximidade. Não a conhecia mas ela estava lá. E no tempo certo, como se empurrados e ajudados pelos maquiavélicos manipuladores das coisas da vida, ela sorriu para mim e os nossos mundos finalmente colidiram. Nada pareceu estranho ou descontextualizado. Acho que sabíamos que iria ser assim, ou pelo menos não estranhámos uma proximidade tão repentina e forte. E de repente ali estava ela, ao meu lado, a partilhar os meus tão amados silêncios de maneira confortável.

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