terça-feira

Monte Aurora, 23 de Novembro

O frio começa a apertar cada vez mais. Matt queixa-se impotente e vai esfregando as mãos uma na outra. Mais um dia que passa e os resultados continuam longe do que desejávamos. O desânimo ainda não é total mas para lá caminha e o frio contribui para isso. Quase nem consigo escrever esta mensagem, vale o apoio do Tim. Tim e eu estamos cada vez mais próximos e a nossa relação cada vez mais forte. É o único que mantém a esperança e o entusiasmo inicial e com isso vai transmitindo forças suplementares aos restantes membros do grupo e principalmente a mim, que desde que me amputaram o pé não tenho sido o mesmo. Curiosamente, não temos sentido muito a falta de Lisa nem qualquer tipo de remorsos por a termos morto para termos o que comer. Apesar de eu a considerar necessária para a nossa expedição, sempre a achei uma verdadeira puta em vida, mas verdade seja dita, tem um lombo deveras delicioso. Tim, tem feito uns verdadeiros petiscos com o pouco que temos. E assim nos vamos aguentando enquanto o tempo se arrasta. Congelados: nós e o tempo. O calor que recebo vem de Tim, bem como toda luz. Matt começa a enervar-me cada vez mais e perfila-se como o próximo candidato ao churrasco. Miguel, é português e temo por ele. Não por gostar particularmente dele, parece-me um pouco obtuso, mas é a única hipótese de sairmos daqui, por isso convém não colocá-lo no menu. O problema é que me parece estar a enlouquecer, balbucia algo que deve ser português e olha com uma cara assustadora para nós. Chego a ter medo, com estas gentes de sangue quente nunca se sabe. Por fim temos a Kattie, mais uma galdéria. Se o Matt não fosse tão irritante gostava de lhe mordiscar umas febras dentro em breve. Acho que o Miguel também gostava de lhe mordiscar as febras, mas de outra maneira. No entanto tenho fingido gostar dela e do português. Há que fazer amizades e isolar alguém. Não quero ser o próximo petisco. Enfim... amanhã mais um dia igual ao dia de hoje.

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