#3

Era fácil perceber que nessa noite não iria entender muita coisa. A certeza é uma coisa pouco certa muitas vezes. Não fui a casa nesse fim de semana porque combinei um jantar com umas amigas. Até aí nada de especial, ou será que sim? Logo decido. Enfim... O que sei é que fomos a um bar que nunca tinha ido. Sabes, quando as luzes começam a entorpecer a raciocínio? Comecei a ouvir umas vozes e não quis acreditar. Era eu. Descia com um amigo pela rua. Ou era a rua que estava a subir? Detalhes... Enfim, a conversa era sobre t-shirts e Londres... algo do género. Quando cheguei, comecei imediatamente a focar o tecto por cima de mim e a desviar o olhar dele. Ou dela? Tinha medo de me apaixonar. A nossa mão roçou uma na outra. Pelo menos devo ter desejado isso. Ela achava-lhe graça. Ele focava o tecto. Havia ali uma barreira que estava a ser tentada pelo desejo. Os nossos dedos cruzaram-se outra vez. Trocou-se um segredo mal guardado durante um milésimo de segundo. A sala ficou escura e as pessoas entraram no seu buraco de fuga pessoal. Quando quero, abre-se uma frincha no espaço, enquanto o tempo anda tão devagar que dir-se-ia parado. Cada pessoa tem um desses objecto de fuga só para si. Eu ordeno que elas entrem para dentro desse rasgo de luz e elas obedecem mas nem dão por isso. A luz então extingue-se, as pessoas desaparecem e fico só por momentos. Mas ela continuou ali comigo. Então tive tempo para olhar para ela em silêncio. Ela não sabia e iniciava um movimento de dança qualquer. Fiquei deprimido. As pessoas voltaram depois de mais um flash. Ela continuou a dançar. Sentia-a mais distante. Ele parecia estar bêbado... ou aborrecido. Olhava para o tecto. Gostava de usar estes meus poderes para algo com um fim mais útil. Para fazer chichi por exemplo.